Tem coisas nesse armazém

Nesse armazém existe uma arma zen, pedaços de alegrias, pacotes de neurõnios, vidros de paz, sons que podemos ser, hai-cais, poesia e prosa, perfume e cheiro, muita coisa tem nesse armazém

11 fevereiro 2012

LI E RECOMENDO...


ERA A GUERRA DE TRINCHEIRAS 
1914-1918




De Jacques Tardi.


Editora Nemo - 2011
formato 22x29,5cm - 128 páginas.- capa dura.


A Nemo, uma ramificação da Editora Autêntica , que se dedica a publicação de álbuns de quadrinhos, vem nos trazendo coisas muito boas inéditas e reeditando materiais que saíram há muito tempo no país. 




ERA A GUERRA DE TRINCHEIRAS, do francês Jacques Tardi, é uma graphic novel que fala sobre a primeira guerra mundial onde morreram mais de 10 milhões de pessoas e que envolveu 35 países. Muitos arrastados a isso por serem colônias dos países envolvidos.




Tardi, com seus belos e pungentes desenhos em preto e branco e uso perfeito de retículas, conta várias histórias curtas que tem como cenário as trincheiras, os campos de cadáveres e as cidades destruídas. Os personagens são as pessoas que são afetadas de várias maneiras pela guerra. Ora o artesão que é convocado a 'servir a pátria'; ora a mulher que fica a espera do amado, ora crianças que perdem a inocência quando a guerra bate a sua porta. 
São contos reais que mostram a estupidez  e a inutilidade da guerra, que Tardi captou nas conversas com seu avô, que combateu, tendo presenciado vários horrores. e que nos mostra com olhar cinematográfico em sequências perfeitas e grandiosas.



Este livro, publicado pela primeira vez em 1993, ganhou um Eisner quando saiu nos EUA e foi indicado ao Harvey. além de vários outros prêmios pelo mundo afora. Para escrevê-lo Tardi não baseou-se apenas no testemunho do seu avõ, tendo feito uma grande pesquisa como se vê na página de referências que está no final do volume. 






Tardi, mostra como o esquema monstruoso da guerra reduz cidadãos a meras peças de carne que servem para alimentar o fogo dos canhões. 


Longe das visões glamourosas de Hollywood, mostra o ser humano como joguete sem vontade própria, de um sistema que o lança em uma situação que lhe massacra e bestializa,  embrutece e o torna simplesmente um número numa campanha, um peão no tabuleiro dos que ficam de longe 'planejando novos jogos de guerra'.



Leitura obrigatória para todos que amam a liberdade.

07 fevereiro 2012

LI E RECOMENDO...


LOVELESS ou TERRA SEM LEI
Criado por Brian Azzarello e Marcelo Frusin


Roteiros: Brian Azzarello (100 Balas, Cidade Castigada)
Desenhos: Marcelo Frusin, Danijel Zezelj e Werther Dell´Edera
Cores: Patrícia Mulvihill, Martin Breccia e Lee Loughridge


Sobre Azzarello, uma opinião.


Brian Azzarello
     Gosto muito de Brian Azzarello. Sim, considero que sua série 100 balas é uma das melhores séries contemporâneas. E acho que Cidade Castigada - o arco em que revisita o personagem Batman é uma das melhores histórias do homem-morcego) resgatando um lado seu obscuro e pesado, quase como Frank Miller fez em Dark Knight Returns. isso sem falar em Coringa ou Lex Luthor Man of Stell, Todas ótimas parcerias com os monstros Eduardo RissoLee Bermejo.


     Pra mim, Brian Azzarello além de escrever diálogos ótimos, frios e cortantes como um fio de navalha, sabe retratar como ninguém tipos humanos - com todas as suas fraquezas e suas qualidades. Ele consegue de maneira magistral retratar o ambiente em que a história se desenrola. Seus personagens não são de papel e tinta, são de carne e sangue. Perdidos, derrotados, cruéis, falhos, terrivelmente verdadeiros.

     Além disso, cria tramas que fariam Dashiell Hammett e Raymond Chandler tirarem o chapéu. Ele é um escritor noir no verdadeiro sentido da palavra. Não são apenas cenários decadentes, ternos gastos e gente derrotada. Azzarello explora a alma humana e extrai o que de pior e melhor ela tem. 


Sobre Loveless


     Fazia tempo que não lia uma hq de faroeste tão boa. Loveless é um grande gibi e segue na linha de faroestes como Os   Intocáveis de Clint Eastwood,  ou o o moderno Bravura Indômita, mostrando pessoas reais e um novo olhar sobre os acontecimentos de uma das mais cruentas guerras civis que já houveram nos EUA com mais de 600 mil mortos..


     A história começa logo após a derrota do Sul, na guerra de secessão. Wes Cutter volta ao lar após ter combatido ao lado dos confederados apenas para encontrar sua fazenda e sua cidade ocupadas pelas tropas do norte. E sua mulher, Ruth, exilada. Sobre a cidade um manto de mistério e medo. Aos poucos vai se descobrindo o que aconteceu na sua ausência. Wes se torna um simbolo de resistência a ocupação, desafiando a todos com suas atitudes. Pessoas que querem esquecer o que foi a guerra mas ele não deixa. Seu objetivo é claro: a guerra não acabou. Ele lutará até o fim porque não tem outro jeito.


     Ao mesmo tempo, sabemos da história do soldado nortista, Atticus Mann. Negro e rebelde, Atticus nasceu no Sul mas cedo fugiu para o norte em busca de uma vida melhor. Foi alistado e voltou para guerrear contra o Sul. Através de Atticus vemos a realidade do negro nos Estados escravagistas do Sul. A repressão e o racismo forte que havia e a luta pela sobrevivência.


     Sobre a Guerra da Secessão, cabe uma explicação. Tudo começou porque os Estados do Sul que eram de economia agrícola e possuiam grandes latifúndios eram contra a libertação dos negros escravos que eram a mão-de-obra barata indispensável.  Como Abe Lincoln que era presidente em 1861, queria a abolição fez se a guerra. Porém mesmo com a vitória do Norte e a sua libertação, os negros foram marginalizados por falta de políticas públicas por parte do governo. 


     Loveless tem uma trama bem elaborada e abusa dos flashbacks 'ao vivo' - um recurso em que cenas do passado e do presente aparecem simultaneamente. o que a principio tende a confundir mas chama atenção para pontos capitais da trama.


     Uma pena que foi cancelada nos States no n°24 se não me engano mas Azzarello fez questão de fechar o arco que conclui na edição 21 e publicar mais 3 histórias que falam sobre os destinos de alguns personagens que aparecem durante a trama, falando um pouco sobre as consequências da guerra civil e o futuro.

     Sobre a arte, Loveless é um show. A diversidade de desenhistas que tem estilos tão diferentes e que a principio podem confundir um pouco o leitor mostra-se uma idéia brilhante devido a qualidade dos mesmos. A diversidade enriquece a experiência da leitura.
Marcelo Frusin, velho conhecido do público com Hellblazer,  está muito em forma e suas cenas e enquadramentos são dignos de grandes clássicos de faroeste, criando um clima de deixar Sérgio Leone babando. 
Danijel Zezelj  é muito bom e talvez seja a grande surpresa da série - com seu  traço peculiar - mais carregado e sujo, contrastando com o estilo limpo de Frusin, constrói sequências incríveis e sabe passar a emoção dos personagens. São suas algumas das melhores histórias da série.
Wherter Dell´Edera talvez seja o mais fraco dos três mas não gosto dessa palavra que não o define. Tem um estilo limpo e estilizado e peca algumas vezes mas conta a história de maneira dinâmica e segura. 

     As cores são perfeitas, contribuindo para o clima das histórias e respeitando o traço de cada um dos desenhistas. trabalho mais do que competente. do trio  Patrícia Mulvihill, Martin Breccia e Lee Loughridge. Belíssimo trabalho.


     Loveless é uma dessas histórias que por mais que se fale não se consegue exaurir o tema. Há sempre mais alguma coisa a se descobrir , um angulo novo, um detahe que passou. Seja no argumento ou na arte. Vale a pena dar uma conferida. Aposto que deverá ficar na sua estante num lugar bem especial.

Aqui a Panini publicou a série na íntegra em 4 encadernados que já saíram há algum tempo mas ainda se pode achar com relativa facilidade.

Recomendo.